terça-feira, maio 27, 2025
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A Bíblia Etíope: conheça o cânone mais antigo e completo do cristianismo

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A Bíblia Etíope, oficialmente chamada de Bíblia da Igreja Ortodoxa Etíope Tewahedo, destaca-se como uma das coleções de escrituras cristãs mais antigas e completas já preservadas. Originada no século IV, na Etiópia — um dos primeiros países a adotar o cristianismo como religião oficial, durante o Reino de Axum —, ela foi escrita em Ge’ez, uma antiga língua semítica que permanece em uso na liturgia etíope. Diferentemente das versões ocidentais mais conhecidas, como a Bíblia Protestante, com 66 livros, e a Bíblia Católica, com 73, o cânone etíope reúne 81 livros, incorporando textos exclusivos que não aparecem em outras tradições cristãs.

A antiguidade da Bíblia Etíope é um de seus aspectos mais impressionantes. Sua tradução para o Ge’ez teve início entre os séculos IV e V, coincidindo com a conversão do país ao cristianismo. Isso a coloca no mesmo período de manuscritos famosos, como o Codex Sinaiticus e o Codex Vaticanus, ambos do século IV, e a torna anterior a obras como a Bíblia King James, publicada apenas em 1611 com base em textos mais recentes. Um exemplo notável dessa tradição são os Evangelhos de Garima, manuscritos etíopes datados entre os séculos IV e VII, considerados alguns dos textos cristãos iluminados mais antigos do mundo.

O que torna a Bíblia Etíope única, além de sua idade, é a inclusão de livros rejeitados ou classificados como apócrifos por outras igrejas. Entre os mais significativos estão o Livro de Enoque, que detalha visões apocalípticas sobre anjos caídos e o juízo final, o Livro dos Jubileus, uma releitura cronológica do Gênesis e do Êxodo, e os 1, 2 e 3 Meqabyan, narrativas de martírio exclusivas da tradição etíope, distintas dos Macabeus católicos. Esses textos, junto a outros como o Salmo 151 e a Oração de Manassés, refletem uma visão mais ampla do que é considerado inspirado pela Igreja Etíope.

A preservação desse cânone está ligada à influência da Septuaginta, a tradução grega do Antigo Testamento usada pelos primeiros cristãos, e ao isolamento geográfico da Etiópia após o século V. Diferente do Ocidente, onde concílios como o de Trento (1545-1563) e a Reforma Protestante moldaram os cânones, a Igreja Etíope manteve sua tradição textual intacta. Seus manuscritos, escritos em pergaminho de pele de cabra e adornados com ilustrações coloridas, são guardados em mosteiros como o de Garima, na região do Tigré, e representam um tesouro cultural e religioso.

Mais do que um documento de fé, a Bíblia Etíope é uma janela para o cristianismo primitivo e a história da África.

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