O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) voltou ao centro do debate político nesta quarta-feira (12/03/2025), ao se reunir com Valdemar Costa Neto, presidente do Partido Liberal (PL), em Brasília. O encontro, liberado recentemente pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), marcou a retomada do diálogo entre os dois, que estava proibido desde investigações sobre supostas tentativas de interferência nas eleições de 2022. Em coletiva de imprensa ao lado de Valdemar, Bolsonaro reafirmou sua intenção de concorrer às eleições presidenciais de 2026 e criticou duramente a inelegibilidade que o impede de disputar cargos públicos até 2030.
“Por enquanto, sou candidato. Por que tenho que abrir mão do meu capital político para alguém? Eu não tenho que abrir mão”, declarou Bolsonaro, rejeitando pressões para apoiar outro nome na próxima disputa. Ele destacou sua experiência como diferencial: “Peguei uma pandemia, uma guerra [Rússia-Ucrânia] e entreguei o governo no azul. Ninguém tem esse currículo”. O ex-presidente também sugeriu que cada partido lance seu candidato no primeiro turno, citando nomes como o cantor Gusttavo Lima, o governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União Brasil), e o governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), para depois buscar uma aliança no segundo turno.
Bolsonaro fez elogios ao seu ex-ministro da Infraestrutura e atual governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), mas evitou comprometer-se com um eventual apoio à candidatura dele em 2026. “Tarcísio é um grande nome, mas preciso conversar com Valdemar sobre isso”, desconversou. A relação com Tarcísio é vista como estratégica, mas o ex-presidente parece decidido a manter seu protagonismo no cenário político.
Críticas à Inelegibilidade e à Justiça
Bolsonaro voltou a chamar sua inelegibilidade de “injustiça” e questionou a decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que o condenou em junho de 2023 por abuso de poder político e uso indevido dos meios de comunicação. A punição veio após uma reunião com embaixadores no Palácio da Alvorada, em julho de 2022, durante a campanha eleitoral, quando ele fez ataques infundados ao sistema eleitoral brasileiro, questionando a segurança das urnas eletrônicas. “É justo eu ficar inelegível por me reunir com embaixadores? Não me reuni com traficantes do Morro do Alemão. Isso é negar a democracia”, disparou.
Para o ex-presidente, a decisão do TSE representa uma interferência indevida no processo democrático. “Querem que burocratas, que nunca receberam um voto, decidam quem pode ou não ser candidato. Isso é democracia?”, perguntou, em tom de indignação. A inelegibilidade, que o afasta das urnas até 2030, é um obstáculo concreto, mas Bolsonaro sinaliza que buscará meios de reverter a situação ou manter influência na escolha do candidato de seu campo político.
Contexto Político e Estratégia
O encontro com Valdemar Costa Neto reforça a tentativa de Bolsonaro de reorganizar sua base no PL e garantir espaço no tabuleiro eleitoral de 2026. Apesar da condenação, ele segue com forte apelo entre seus apoiadores, especialmente nas redes sociais, onde mantém milhões de seguidores. A estratégia de reafirmar sua candidatura pode ser uma forma de pressionar aliados e adversários, além de testar a receptividade de seu nome após os desgastes de investigações como a do suposto planejamento de um golpe de Estado após as eleições de 2022.
Analistas políticos veem o movimento como uma sinalização clara de que Bolsonaro não pretende abrir mão de sua liderança no campo da direita brasileira. “Ele quer manter o controle da narrativa e do partido, mesmo inelegível. É uma jogada para não ser substituído facilmente”, avalia o cientista político Carlos Melo, em entrevista recente. A menção a nomes como Caiado e Zema, porém, indica que ele está atento à concorrência interna no espectro conservador.