Em um avanço que pode transformar o futuro do tratamento do câncer, pesquisadores do Korea Advanced Institute of Science and Technology (KAIST), uma das principais universidades de ciência e tecnologia da Coreia do Sul, anunciaram o desenvolvimento de uma tecnologia inovadora capaz de “reprogramar” células cancerígenas, revertendo-as a um estado saudável, semelhante ao das células normais. Liderada pelo renomado professor Kwang-Hyun Cho, do Departamento de Bioengenharia e Engenharia Cerebral, a descoberta, publicada na revista Advanced Science, representa uma mudança de paradigma em relação aos métodos tradicionais, que focam em destruir as células tumorais, muitas vezes causando efeitos colaterais graves e recorrências.
Diferente das terapias convencionais, como quimioterapia e radioterapia, que buscam eliminar as células cancerígenas – frequentemente danificando células saudáveis no processo –, a abordagem do KAIST utiliza um modelo digital sofisticado, chamado de “gêmeo digital”, para mapear as redes genéticas das células normais. A partir dessa análise, os cientistas identificaram interruptores moleculares específicos – reguladores mestres como MYB, HDAC2 e FOXA2 – que, quando manipulados, induzem as células cancerígenas a se diferenciar e retornar a um estado não maligno. Em testes realizados com células de câncer de cólon, tanto em laboratório quanto em experimentos com animais, a técnica demonstrou resultados impressionantes, convertendo as células tumorais sem a necessidade de destruí-las.
O KAIST, fundado em 1971 em Daejeon e reconhecido globalmente por sua excelência em pesquisa (53º no QS World University Rankings 2025), está na vanguarda dessa inovação. Segundo o professor Cho, “o fato de que células cancerígenas podem ser revertidas para células normais é um fenômeno surpreendente, e este estudo prova que essa reversão pode ser induzida de forma sistemática”. A pesquisa, publicada em dezembro de 2024 (DOI: 10.1002/advs.202402132) e atualizada em janeiro de 2025 com detalhes sobre o “interruptor molecular” (DOI: 10.1002/advs.202412503), foi financiada pelo Ministério da Ciência e TIC da Coreia do Sul e pela Fundação Nacional de Pesquisa, destacando o apoio governamental à ciência de ponta no país.
A tecnologia já foi testada com sucesso em organoides (tecidos cultivados em laboratório) de pacientes com câncer de cólon e em modelos animais, mostrando potencial para reduzir os efeitos colaterais devastadores das terapias atuais e diminuir as chances de resistência ou recorrência do câncer. Além disso, os pesquisadores acreditam que o método pode ser adaptado para outros tipos de tumores, como leucemia, câncer de mama e hepatocarcinoma, ampliando seu impacto. “Estamos introduzindo o conceito de terapia reversível contra o câncer, que identifica alvos específicos por meio da análise sistemática das trajetórias de diferenciação celular”, explica Cho.
Os próximos passos incluem o refinamento da técnica para aplicações clínicas, um processo que está sendo acelerado pela BioRevert Inc., empresa que recebeu a transferência da tecnologia para transformá-la em tratamentos práticos. Especialistas, como Ross Mayfield, da Baird Private Wealth Management, veem a descoberta como um marco, embora alertem que sua eficácia em larga escala dependerá de mais testes em humanos. Ainda assim, a promessa é clara: uma abordagem menos invasiva, mais precisa e potencialmente revolucionária.
Para os pacientes e a comunidade científica, essa inovação reacende a esperança de um futuro em que o câncer possa ser enfrentado não como uma batalha destrutiva, mas como um processo de restauração. À medida que a pesquisa avança, o mundo acompanha de perto os desdobramentos desse trabalho pioneiro sul-coreano, que pode redefinir como combatemos uma das doenças mais temidas da humanidade.